9 de agosto ( 1846)
Recordaste-te deste dia 9, tu minha R.? Número ímpar e divino que para sempre ficou gravado no meu coração! Faz hoje 5 meses que foste minha!
Quanto tem crescido o meu amor desde então! Olha, R., que não é este o costume, que nunca me sucedeu assim com ninguém: não te aborreças de to repetir tanto, mas é que nunca amei a ninguém senão a ti. – Sabes: e tu também a ninguém amaste senão a mim. Crê-me: esse sentimento que temos um pelo outro não se experimenta duas vezes na vida.
Que noite a de ontem, que dia o de hoje! Eu nado em felicidade, o meu coração está cheio de amor, de gratidão e de ternura. Isto não pode acabar, isto é muito celeste demais Para estar sujeito às misérias e variedades das coisas da terra. O nosso amor é imortal porque é divino, mInha alma, meu anjo, minha adorada R. quanto mais te conheço, mais te amo: e apesar de todos os meus defeitos tu também me amas mais depois que mais me conheces. Não é verdade? É que os nossos corações são bons realmente e feitos um para o outro.
Adeus, estou rodeado de importunos, não posso mais. Amanhã sem falta vamos a passar o dia ao campo, a saúde do nosso corpo e da nossa alma também precisam de ar livre. Vamos amar-nos no seio da natureza e regenerar o sangue e a vida.
Adeus, até à noite, quando eu voltar das Praias, que te hei-de ver à janela. E me hás-de falar duas palavritas em Francês. Será tarde, meia-noite, para ninguém saber que te falo. Pode vir um outro conhecido qualquer que te encontre à janela e deves estar com L. para evitar suspeitas – se alguém vir, mas ninguém vê.
Adeus. Um só B., mas daqueles! Adeus, adeus.